Two roads

10 janeiro 2006

Ai Alegre...

"Na lota da Figueira da Foz, onde a comitiva chegou com mais de uma hora de atraso, o candidato [Manuel Alegre] distribuiu beijos (quase sempre na testa), abraços e apertos de mão, ouviu lamentos e, quando já ia de saída, não resistiu a recuar para trocar dois dedos de conversa com uma peixeira muito pândega, de cerca de 70 anos, que bailava de forma extravagante, ao mesmo tempo que prometia votar em Alegre. Este desinibiu-se, embora mantendo a habitual atitude de homem de poucas palavras, e quando "ousou" tocar na cintura da cómica mulher, esta soltou uma frase que deixou o candidato atónito "Ai que há 20 anos que não sou agarrada por um homem!", in Jornal de Notícias

Manuel Alegre pode até nem ter what-it-takes para chegar à Presidência da República, mas a julgar pelo descrito, o homem ainda tem aquele je-ne-sais-quoi que as faz suspirar ;)

Creio que a sua figura de homem de esquerda, de ideais íntegros, convicções fortes, de trato fácil, sem grandes atributos mas globalmente são, pode efectivamente trazer-lhe muitos votos, uma vez que uma larga fatia da população almeja esse perfil para o Presidente da República.

Julgo que Alegre tem feito uma campanha interessante, evidenciando uma confiança crescente, empática e contagiante.

Ainda assim, as sondagens não têm reflectido esta minha percepção. Creio que tal se deve a uma excessiva partidarização da cena política portuguesa e ao facto de Alegre não ser oficialmente apoiado por nenhum partido.

Alegre, que neste momento me parece claramente personna non grata no seio do seu partido, põe a descoberto a clara dualidade de pensamento ideológico existente no PS desde há alguns anos, patente na distância entre si e o primeiro ministro. Alegre posiciona-se na ala de Abril, fundada em profundos ideais socialistas, onde a igualdade é palavra de ordem, que contrasta com a "nova" ala reformista, que alia à génese tendencialmente social do partido, novas preocupações de índole económico e de mercado, conotadas tradicionalmente com partidos mais liberais.

Curioso é o facto de não haver um candidato do PS claramente pertencente a esta última ala, que tem vindo a assumir preponderância no partido. Assim, José Sócrates y sus muchachos tiveram que optar pelo... menor dos males :)

Delicioso seria ser o "jogo de cintura" do nosso "primeiro" no caso de Alegre passar à 2ª volta :)