Two roads

17 dezembro 2005

Desistentes procuram-se

“No Partido Socialista, a ilusão sobre as capacidades competitivas de um dinossauro político como Mário Soares na actual corrida à Presidência da República já começou a ser substituída pelo discurso do desespero. Jorge Coelho, que não costuma dar um ponto sem nó, nem disperdiçar oportunidades para fazer o papel de criador de factos políticos, deu o pontapé de saída. O apelo que protagonizou para que os candidatos que disputam os favores dos eleitores de esquerda desistam, criando a oportunidade para que o ex-Presidente regresse ao cargo que ocupou durante dez anos, é revelador da súbita tomada de consciência sobre o beco para que o PS se atirou ao lançar-se nos braços de Soares em busca de uma tábua de salvação, numa refrega que se revelava difícil desde o início. [...]

Nada poderia ser mais fragilizador, nesta altura, do que o PS dar sinais de que, afinal, Soares, apesar de todo o peso histórico que arrasta, tem escassas possibilidades de bater Cavaco, caso não consiga convencer os seus adversários a retirarem-se da contenda. Como num negócio, o pior que se pode fazer nas circunstâncias políticas em que o PS voluntariamente se atolou em parceria com Soares, está em dizer claramente aquilo de que se está dependente para alcançar determinado objectivo. Se os factores decisivos estão nas mãos de outrem e o facto é publicamente confessado, o melhor que se pode almejar é ficar enredado numa posição negocial frágil. [...]", in Público.

A posição do PS nestas eleições é sem dúvida desconfortável, face ao posicionamento secundário que a candidatura que apoiou - de Soares - teima em manter, isto a julgar pelos resultados de "quase todas" (e mais não digo) as sondagens.

Nesta conjuntura difícil não se olha a meios para atingir os fins, pelo que o apelo do PS à desistência dos seus congéneres de esquerda aparece naturalmente, apesar de, termos que convir que estes jogos de interesse são de todo dispensáveis e ferem os mais básicos conceitos da democracia representativa.

Em todo o caso, acho altamente discutível o suposto interesse da desistência generalizada dos candidatos de esquerda e consequente convergência em torno da candidatura de Soares. Isto porque os votos daquelas diversas candidaturas serão necessariamente superiores aos que resultariam de uma candidatura única de um qualquer candidato de esquerda, sendo assim mais profícua a primeira hipótese na tentativa de evitar a vitória de Cavaco logo na primeira volta.

A única vantagem que vejo nessa eventual convergência seria um hipotético efeito mobilizador, com uma "nova dinâmica" que se poderia criar, ainda assim, de resultados mais dúbios do que o bem mais tangível referido previamente.